Há livros que falam da sinceridade e outros preferem falar com sinceridade. No caso do mítico livro de Fidel Castro "A História me Absolverá", pertence, sem dúvida alguma, ao segundo grupo mencionado.
Nem todos as obras que partem de um eu reflectem exactamente a pessoa mais isolada da gramática, alguns são efabulados, outros serão exagerados, outros omissos, alguns negativos, etc. Perante as páginas deste testemunho histórico somos confrontados com uma honestidade que constrange o leitor porque é apanhado de surpresa, raras vezes encontramos sinceridade numa obra que tem como figura central uma pessoa de poder ou de proto-poder, na medida em que é preferível adornar as afirmações pensando já no futuro cargo.
Como já tinha visto no "Biografia a Duas Vozes" de Ignacio Ramognet (ed. Campo das Letras) e no filme "El Comandante" de Oliver Stone, Fidel Castro jamais recusa responder às perguntas feitas, assim como não nega o bem e o mal praticados. Acima de tudo, Fidel Castro assume os erros que cometeu, assume a responsabilidade de decisões polémicas, partilha a glória e as conquistas do povo cubano.
Neste livro, Fidel Castro defende-se perante os tribunais de Fulgêncio Batista (por isso aconselhável a pessoas do Direito e da Lei), após ter sido capturado em acções de guerrilha e tentativas de depor o ditador Fulgêncio. Em certos momentos, a defesa de Fidel é inexorável e sublime, abraça o povo e os ideiais socialistas, renega a influência norte-americana e entrelinhas, deixa a sugestão da revolução vitoriosa de 1959. Este livro tornou-se o manifesto da reistência, fruto das denúncias e ataques realizados por Fidel à venalidade do regime de Fulgêncio Batista. Ao longo da auto-defesa, Castro enumera ilegalidades, corrupções, violações, abusos de poder. Revela números e casos de corrupção praticados pelo ditador e pelos seus esbirros.
Quer se goste ou se odeie Fidel Castro, uma certeza podemos ter: a sua figura carismática é incontornável e com certeza ocupará para sempre um lugar na História mundial.
"A História me Absolverá"
Editorial Presença, 1970
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