"Enterrar os Mortos" é uma obra documental sobre a morte de José Robles Pazos, escritor e tradutor de John dos Passos. É igualmente uma obra que analisa o conflito entre John dos Passos e Hemingway, amigos que se separaram por divergências políticas, uma vez que, depois do fuzilamento de Robles Pazos, John decidiu investigar e descobrir, não só os assassinos, mas também o motivo. Ernest Hemingway era partidário dos ideiais comunistas (mas pouco letrado na matéria, segundo alguns) e procurou convencer o amigo americano a desistir da procura. John dos Passos não quis ouvir e a cisão aconteceu com alguma violência.
Ao longo do livro descobrimos os passos que conduziram Robles à morte, mais do que a um desenrolar da sua vida literária ou pessoal. Aquando do início da Guerra Civil Espanhola, José Robles Pazos dava aulas na faculdade de Baltimore e optou por passar férias em Espanha. Nunca mais regressaria aos Estados Unidos.
Simpatizante da causa republicana, Robles ofereceu os seus serviços enquanto intérprete (sabia vagamente o russo) e passou a conviver com algumas personagens muito influentes da República, espanhóis e soviéticos. Ora, para além de intérprete, Robles Pazos era também um escritor que apreciava as tertúlias em cafés e supostamente, terá sido esse o seu pecado, uma vez que terá comentado descontraidamente pormenores da estratégia para combater os falangistas. Os soviéticos não gostaram. Prenderam-no, interrogaram-no e depois fuzilaram-no.
De forma incansável, John dos Passos investiga a morte do amigo espanhol, procurando ajudar a viúva e os filhos, cuja entrada na política não será alheia a morte do pai.
Um ponto interessante neste livro é que não é apenas uma análise exaustiva à morte de Robles, mas também aborda a vida de personagens secundárias, artistas que participaram na Guerra Civil Espanhola. São reveladas as intrigas políticas e as divergências entre comunistas e anarquistas.
Não será o melhor livro de Ignácio Martinez de Pisón (Saragoça, 1960), na medida em que a sua narrativa ganha força com a ficção e com um ritmo próprio, para além das personagens que habitam os seus romances, figuras muito longe de serem planas, tão características pelas suas idiossincrasias. Relembro as personagens do romance "Estradas Secundárias", em que são em si mesmas um livro, criando um universo muito rico e um dinamismo próprio deste autor. Em "Estradas Secundárias", Pisón retrata a vida de pai e filho, viajando num Citroën Boca de Sapo, pela Espanha franquista. Um filho que cresce em silêncio no meio dos fracassos do pai, um homem que teima ser empresário e agente de grandes estrelas de cinema e da música. Um road book que muito gostaria de ver adaptado ao cinema.
"Enterrar os Mortos"
Editorial Teorema, 2005
"Estradas Secundárias"
Assírio & Alvim, 1997
Ao longo do livro descobrimos os passos que conduziram Robles à morte, mais do que a um desenrolar da sua vida literária ou pessoal. Aquando do início da Guerra Civil Espanhola, José Robles Pazos dava aulas na faculdade de Baltimore e optou por passar férias em Espanha. Nunca mais regressaria aos Estados Unidos.
Simpatizante da causa republicana, Robles ofereceu os seus serviços enquanto intérprete (sabia vagamente o russo) e passou a conviver com algumas personagens muito influentes da República, espanhóis e soviéticos. Ora, para além de intérprete, Robles Pazos era também um escritor que apreciava as tertúlias em cafés e supostamente, terá sido esse o seu pecado, uma vez que terá comentado descontraidamente pormenores da estratégia para combater os falangistas. Os soviéticos não gostaram. Prenderam-no, interrogaram-no e depois fuzilaram-no.
De forma incansável, John dos Passos investiga a morte do amigo espanhol, procurando ajudar a viúva e os filhos, cuja entrada na política não será alheia a morte do pai.
Um ponto interessante neste livro é que não é apenas uma análise exaustiva à morte de Robles, mas também aborda a vida de personagens secundárias, artistas que participaram na Guerra Civil Espanhola. São reveladas as intrigas políticas e as divergências entre comunistas e anarquistas.
Não será o melhor livro de Ignácio Martinez de Pisón (Saragoça, 1960), na medida em que a sua narrativa ganha força com a ficção e com um ritmo próprio, para além das personagens que habitam os seus romances, figuras muito longe de serem planas, tão características pelas suas idiossincrasias. Relembro as personagens do romance "Estradas Secundárias", em que são em si mesmas um livro, criando um universo muito rico e um dinamismo próprio deste autor. Em "Estradas Secundárias", Pisón retrata a vida de pai e filho, viajando num Citroën Boca de Sapo, pela Espanha franquista. Um filho que cresce em silêncio no meio dos fracassos do pai, um homem que teima ser empresário e agente de grandes estrelas de cinema e da música. Um road book que muito gostaria de ver adaptado ao cinema.
"Enterrar os Mortos"
Editorial Teorema, 2005
"Estradas Secundárias"
Assírio & Alvim, 1997
talvez um dia destes se lembrem de a fazer. aqui fica a promessa de um bilhete pago, e um serão bem passado ;)
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