No livro Autobiografia, Darwin fala sobre este assunto, sobre a forma como ele próprio encarou a polémica; aborda igualmente a sua viagem no Beagle, nomeadamente a disputa que teve com o pai, uma vez que o pai desconsiderava a profissão de naturalista. Chegaram a acordo e Robert Darwin permitiria que o filho embarcasse na maior aventura da origem das espécies, se C. Darwin levasse um homem honrado a defendê-lo. Charles levou o tio e o pai aquiesceu na viagem.
Ao longo desta obra, percebemos a forma como Charles Darwin era dedicado ao trabalho, tanto que a maior parte de Autobiografia é preenchida com memórias sobre o trabalho, evoluções nas suas descobertas, a forma como iniciou os estudos, etc. Sem dúvida alguma que Darwin foi um homem apaixonado pela ciência e pela natureza, pois a sua maior paixão era a caça, optando muitas vezes por esta em detrimento da ciência. Porém, um dia, Darwin deixou de caçar para se dedicar à natureza, preferindo observar a matar.
Actualmente não temos dúvidas em aceitar a teoria da evolução (o criacionismo faz parte do passado), não só porque é aquela que faz sentido, como é a única que consegue explicar sem equívocos, a origem e evolução do Homem. Na época vitoriana, a Bíblia explicava a origem do Homem, a forma como havia sido criado e sobretudo, quem o havia criado. Ora, quando Charles Darwin lança a sua teoria, a sociedade conservadora acusa-o de macaco por defender que nós vínhamos dos macacos! Darwin foi aconselhado por um amigo a não reagir, uma vez que a polémica não o serviria e à sua teoria.
Nesta pequena obra autobiográfica, Charles Darwin traz a lume algumas das descobertas que fez em vida, embora remeta o leitor para os seus livros publicados, na medida em que apenas estes têm a teoria e valem a pena ser lidos, ao contrário da sua autobiografia. Recorda igualmente as principais influências na sua vida e no seu percurso científico, refere as obras de colegas, os poetas que o “ajudaram” a contemplar a natureza, os familiares que tanto amou.
Não posso deixar de referir um aspecto relevante desta obra, facto que muito me admirou: a simplicidade e humildade com que está escrita. Charles Darwin não fala de si com soberba, fala de factos, fraquezas e virtudes, apresenta-se como um homem comum, um aluno vulgar que ninguém considerava, não esconde a sua ignorância em determinados assuntos. Assim como fala dos seus mestres e condiscípulos com saudade e imparcialidade: poderá parecer estranho ver no mesmo parágrafo um elogio e uma crítica a um professor, mas Darwin era transparente, separava o lado humano do lado profissional, tanto admirava a generosidade de um colega como criticava a avareza do mesmo na partilha de material.
Charles Darwin, o homem que descobriu a nossa ascendência simiesca.
“Autobiografia”
Alexandria Editores, 2004