segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O Engenho


Uma grandiosa ode à liberdade, um poema cuspindo contra os ditadores e a opressão, um lamento pela prisões em cada rua.
Nesta obra escrita em prosa e poesia - mas considerado poema pelo autor -, Reinaldo Arenas, um dos intelectuais dissidentes mais conhecidos de Cuba, explora o lado obscuro do regime cubano, através da descrição do "recrutamento" de jovens para o trabalho nas plantações de açúcar. Na verdade, este é um trabalho escravo, onde as horas diárias de produção chegam às 16. Extenuados, os jovens apenas podem aspirar à morte por cansaço ou ao apagamento da mente, deixar de imaginar o futuro, embrutecendo-se entre canas e açúcar que adocicarão os lábios dos senhores e reis do mundo.
Este não é apenas um poema contra a escravatura, acima de tudo, é uma obra sobre a história da escravatura, dos africanos que foram levados para Cuba e aí pereceram sob o peso do chicote e das horas perdidas a carregar pedras. É um poema que aproxima a escravatura actual da antiga, daquela que sustentou os Descobrimentos e tornou as sociedades europeias ainda mais civilizadas, onde os jovens - dissidentes, pequenos criminosos, gays, etc. - eram conduzidos àqueles campos de reeducação. Pretendia-se transformá-los em revolucionários e protectores do regime; acabaram escravos, acabaram mortos, acabaram exilados.
Reinaldo Arenas enfatiza a falta de esperança para os jovens - porque são o futuro do país -, aquele caminho que subitamente é cortado e de repente, apenas um abismo aos seus pés: pátria ou morte. Apenas o mar é imagem de liberdade, tem a imensidão que caracteriza o infinito, é a fronteira para os EUA.
Embora adepto da Revolução (no seu princípio), rapidamente fica desiludido com as consequências: perseguido por ser homossexual, os seus textos são vigiados, a sua liberdade termina numa prisão. Porém, depois da agonia da desesperança e da dor, da humilhação, Reinaldo Arenas consegue embarcar para Miami, onde morre mais tarde num apartamento, assistido pelo seu companheiro.
Mas como o próprio diz em O Engenho, a propósito da liberdade:

procuramos-te ainda
procuramos-te sempre.


"O Engenho"
Antígona - Editores Refractários, 2006

"Antes que Anoiteça"
Edições Asa, 2ª edição, 2001

"Antes que Anoiteça"
Filme sobre a vida de Reinaldo Arenas
Realizado por Julian Schnabel, 2001



1 comentário:

  1. parece-me ser um autor importante demais para ser esquecido. mas também me parece que poucos sabem da sua importância. é importante que haja quem não se esqueça. como tu, para gente como eu.

    ResponderEliminar