segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Tempo e o Quarto


Uma festa que não tem fim porque os convidados voltam atrás. Um homem vem à procura do relógio que julga ter esquecido naquela casa; uma mulher que está na rua e entra em casa porque julga estarem a falar dela; um homem que aparece e revela o nome da mulher que estava na rua. Aos poucos vamos sabendo nomes e histórias das personagens, a forma como todos se cruzam. Aos poucos somos convidados a entrar na obra e na festa, que entretanto já se transformou num desenrolar de memórias, histórias de amor amargas e não correspondidas.
Ao que tudo indica, Julius e Olaf são os anfitriões da festa e em última análise, da própria casa. O primeiro está habituado a falar e a questionar a vida e os outros, enquanto que Olaf é um homem habitado pelo silêncio, o seu e o dos outros, prefere não ouvi-los e foge quando alguém lhe dirige a palavra.
São os leitores-espectadores, os responsáveis por construir um puzzle de emoções e de indícios que constituem as personagens, uma certa confusão abunda naquela casa e num dado passado em que as personagens se cruzaram.
Para além da casa, apenas a rua de que falam, e o resto do cenário é sóbrio e reduzido. O cenário não é importante, mas sim o conflito que se espalha e se insinua com o tempo.
Numa segunda parte da peça ficamos a saber que algo estava invertido inicialmente, as personagens afinal têm outras histórias, a casa não é de Julius e de Olaf, a mulher (Marie Steuber) que estava na rua afinal não é uma forasteira.
O tempo é uma presença muito relevante nesta peça de Botho Srauss, não-só pela ponte criada entre o presente e o passado, como depois entre o passado e o presente (novamente a inversão). A única coisa que parece ser negada é o futuro.


"O Tempo e o Quarto"
Relógio D'Água Editores, 1993

1 comentário: