sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O homem ou é tonto ou é mulher


Um homem que tem pedras dentro dos bolsos e que quer trocá-las por uma máquina de pensar. O mesmo homem tem dois livros de um filósofo que pensam por ele, mas o problema está nos pensamentos serem sempre os mesmos, um livro não pode mudar.
O homem ou é tonto ou é mulher acaba por ser um excelente exercício literário, uma espécie de roteiro da vida de um homem que disserta sobre as suas experiências. Os projectos e ambições que ele tem são magníficos, porém, o desejo estraga tudo e o desejo é o sexo. Em última análise, o sexo estraga tudo. Este pequeno livro é uma súmula de humor negro, imagens cruéis narradas com uma dose refinada de ironia que acabamos por sorrir no fim da frase, "Um dia decidi declarar finalmente o meu amor e quando cheguei à porta da rapariga ela estava mesmo a sair para o seu casamento.
É um caso típico de má sorte."
Podemos ler esta obra como uma biografia não-autorizada de alguém que não existe, uma personagem com substância, mas que ainda não existia como existe hoje. O tempo transforma as personagens e se o homem tinha 30 anos no livro, hoje terá mais. As personagens envelhecem como as pessoas, mas este homem encerra em si as características de um excêntrico: pensamentos peculiares, acções dementes, criações.
Este livro foi adaptado para teatro pelos Artistas Unidos. Compreende-se porquê, uma vez que o ritmo dinâmico permite agilizar o actor perante o espectador, quer através dos aforismos acutilantes do homem, quer através das próprias vidas que a personagem experienciou. Embora não tenha indicações cénicas ou de posição do actor (está escrita em prosa), será fácil imaginar a peça dentro do livro: as acções interiores e exteriores sugerem um espaço imaginado por cada um.
A fechar o livro um ponto que fala sobre os artistas, criando de certa forma um ponto de ruptura com os pontos anteriores. A personagem assume-se como artista (o próprio Gonçalo M. Tavares?) e expoe as angústias e os medos, o caminho inevitável para um artista: a solidão.
Uma pequena obra demasiado curiosa para não ser lida, assim como o autor, o mais interessante escritor português da actualidade e sem dúvida alguma, o mais coeso no universo das suas obras.


"O Homem ou é Tonto ou é Mulher"
Campo das Letras, 2002

1 comentário:

  1. Olá,
    Pois que vim aqui parar e estou a ler este livro.
    Simplesmente delicioso o autor e este "O homem ou é tonto ou é mulher". Aqui fica um post que ainda ontem coloquei no meu blogue.
    Dias felizes!
    http://its-nice-to-know-u.blogspot.com/2012/01/gostaria-que-ela-voltasse.html

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